sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O 11 de setembro que o mundo não pode esquecer

Hoje, 11 de setembro, rememora-se algo que nunca deveria ter acontecido, mas uma vez tendo entrado para a História, jamais poderemos permitir que caia no esquecimento. É o aniversário daquele que foi um dos maiores atentados terroristas de que se tem notícia, que completa hoje 36 anos. Foi no dia 11 de setembro de 1973 que, em um golpe de Estado comandado pelo sinistro general Augusto Pinochet, o Chile e o mundo assistiram impotentes à queda do governo constitucional e democraticamente eleito do Presidente Salvador Allende, afogando em um banho de sangue todas as esperanças daqueles que acreditavam em uma transição pacífica para o socialismo e redefinindo o conceito de terrorismo de Estado em nossa América: desde seu início, saltou aos olhos a crueza e a brutalidade desmedida do golpe, em que aviões de guerra bombardearam o palácio presidencial – com o Presidente Allende dentro! Coisa pior viria após o golpe, quando um redefinido Estado chileno – não mais a serviço do povo, mas sim dos setores mais retrógrados e truculentos da direita chilena – não teria o menor pudor em revelar todo o caráter fascista e assassino do novo regime, que se valeria do terror desmedido para defender aqueles velhos privilégios das elites chilenas que o governo de Unidad Popular, ainda que timidamente, estava por ameaçar. Segundo o Prêmio Nobel Gabriel García Marquez, somente nos primeiros meses do regime Pinochet já haviam 30.000 prisioneiros políticos sendo torturados e humilhados nas prisões chilenas, enquanto quase 20.000 pessoas já haviam sido executadas; ganhou fama mundial o fato do Estádio Nacional de Santiago, principal campo de futebol do país, ter sido transformado num campo de concentração e extermínio de prisioneiros políticos. Porém, o pior legado da ditadura civil-militar no Chile, inaugurada com o golpe de 11 de setembro, certamente foram as medidas econômicas adotadas pelo regime de Pinochet, que até então inéditas no mundo, fariam do Chile um laboratório para aquela política que nos anos 80 seria a espinha dorsal dos governos ultradireitistas de Reagan nos EUA e Thatcher na Grã-Bretanha, e que nos anos 90 engoliria o mundo: trata-se do neoliberalismo, que ao privatizar serviços públicos essenciais e submeter por completo o cidadão comum à lógica irracional do mercado sem limites, produziu marcas profundas e nefastas que perduram até hoje no mundo inteiro, em especial no Chile e na América Latina. Também o contra-exemplo da impunidade com relação aos crimes da ditadura chilena reverbera até os dias atuais, quando a sede golpista de militares e das elites inconformadas com o poder popular leva a episódios como o recente golpe que derrubou o presidente eleito de Honduras.

Tudo isso resultou do golpe de Estado chileno de 11 de setembro de 1973, cujo progenitor é mais que conhecido: foram os EUA que instigaram, defenderam e nutriram do começo ao fim o regime de Pinochet e mais dezenas de outras ditaduras que, na América Latina e no mundo inteiro, encontraram e ainda encontram no Império do norte o mais firme aliado na suja tarefa de sufocar e calar a vontade da maioria. E se hoje, mesmo que a censura da grande mídia nos faça desviar as atenções a esse verdadeiro desastre do 11 de setembro, nos fazendo pensar tão somente em outro mais recente, não nos deixemos iludir pela versão da história dos jornalões e fiquemos atentos a essa ironia ácida proporcionada pela História, que como vingando as centenas de milhares de vítimas dos cães de guarda ianques no Chile, provou ao mundo que, se no 11 de setembro deles, também houveram milhares de vítimas inocentes, elas são antes vítimas de seu próprio governo do que de alguns punhados de fanáticos do oriente. Não se pode jamais espalhar a barbárie no mundo sem esperar que essa mesma barbárie não vá, como num efeito típico de ação e reação, respingar de volta sobre si. Essa é a lição maior que, em nome da(s) vítima(s) do(s) 11 de setembro(s), o mundo jamais poderá esquecer.

domingo, 6 de setembro de 2009

Rapidinhas: pré-sal, Sete de Setembro e nossa América

O petróleo é nosso?

Em seu discurso para o sete de setembro, o Presidente Lula tocou no assunto mais crucial da atualidade: o destino do famoso pré-sal, a reserva de petróleo que pode transformar o Brasil numa Arábia latino-americana. Admitiu que para isso o país precisará necessariamente de uma nova legislação para controlar toda essa riqueza, mas ao tentar explicar qual é o projeto que tem para regular o pré-sal, Lula fez um discurso tão emotivo quanto vago e não apresentou quaisquer garantias de que as incalculáveis riquezas do pré-sal não vão parar em mãos gringas. Lula criticou o atual modelo de gestão de petróleo criado por FHC (que levou à privatização de diversas bacias petrolíferas nos últimos anos), mas também disse que “acredita no livre (sic) mercado”. Convocou o povo a discutir e participar do projeto, mas numa irresponsabilidade espantosa, quer aprovar no Congresso suas novas regras para o pré-sal com toda a pressa possível, em “regime de urgência”. Enalteceu o potencial que a Petrobras tem para cuidar das novas reservas, inclusive afirmando que a empresa se fará presente “em toda a área”, mas afirmou também que cada bacia terá “no mínimo 30%” de participação da estatal – e os outros 70%??
Em resumo, Lula enche a boca para falar da importância de manter a riqueza do pré-sal a serviço do desenvolvimento do país, mas nas entrelinhas deixa escapar que na prática pode acabar permitindo que ocorra justamente o oposto! Já a direita raivosa e entreguista, que sempre morreu de medo do lema que há sessenta anos levou à nacionalização do petróleo brasileiro (“o petróleo é nosso”), além de atacar a Petrobras no seu afã de terminar de privatizar o pouco que sobreviveu ao desgoverno FHC, também adora ridicularizar nos jornalões os poucos que nas ruas, nas universidades e nos sindicatos atentam a uma preocupação inquietante: será que o petróleo é mesmo nosso?


Sete de Setembro: que os excluídos gritem “o Brasil somos todos nós!”

No Brasil, há duas formas usuais de se reagir ao Sete de Setembro e ao sentimento de lembrança da pátria que este nos traz: há aqueles que rejeitam ou até mesmo ridicularizam a data nacional do país, parte como uma reação no estilo “panela de pressão” contra o nacionalismo que lhes foi empurrado goela abaixo nos anos de chumbo da ditadura civil-militar (1964-1985), parte por se envergonharem do seu próprio país, tido como “irremediavelmente perdido” em meio à corrupção, à desorganização, à injustiça e à violência. E do lado oposto há aqueles outros, geralmente os representantes mais gagás da nossa direita raivosa e reacionária, para os quais “ter amor à pátria” significa sair por aí agitando bandeiras verde-amarelas em meio a desfiles militares, ignorando solenemente os graves problemas do nosso país. Ambos os comportamentos caem no extremo, que sempre escapa ao correto. Enquanto os primeiros, verdadeiros “brasilifóbicos”, preferem esquecer a data e apenas aproveitar o feriado em si, os últimos enchem o peito em inócuas juras de amor “à pátria” ao mesmo tempo em que se põem longe da realidade de nosso sofrido povo. Pior, ao fazerem questão de serem os primeiros a vestir o verde e o amarelo e a gritarem o nome do país, muitos desses nacionalistas cegos acabam em suas idéias – e mesmo em sua prática cotidiana – colocando a sua noção distorcida de “Brasil” à frente dos próprios brasileiros! Assim agiram os militares e civis que fizeram a ditadura, bem como todos os desgovernos entreguistas que se seguiram à “redemocratização” no país. Fizeram e ainda fazem porque julgam que “Brasil” se resume à sua elite e nada mais. Ter clareza de quem de fato é “o Brasil” ajuda a escapar dos extremos, tanto dos que odeiam quanto dos que apenas dizem amar nosso país. Antes de tudo, é preciso que não tenhamos mais repulsa por nosso próprio país e sejamos patriotas – não nacionalistas, que pondo o “nacional” acima de tudo, são por definição egoístas e belicosos. Mas precisamos entender que essa pátria a quem devemos carinho e respeito não se resume aos governos nem às elites: o Brasil somos nós, o povo! E da mesma forma que não faz sentido odiar a nós mesmos, não podemos permitir que esse “nós” seja apropriado em nome e em benefício exclusivo “daqueles” que sempre foram donos do país e pensam que o Sete de Setembro e o Brasil são só deles!
Sim, precisamos ser patriotas, pois se não nos importarmos com nós mesmos, quem mais irá se importar? Mas ser patriota é mais do que apenas comemorar a data nacional do seu país. É seguir neste e em todos os demais dias do ano lutando por um Brasil melhor, feito por e para todos nós. Que a 15ª edição do Grito dos Excluídos, manifestação popular nacional que em todo Sete de Setembro enfrenta a apatia de muitos e o boicote quase total da mídia em busca desse novo Brasil, não nos permita jamais esquecer essas verdades.


E a “corrida armamentista” na América do Sul?


Com a visita do Presidente francês Nikolas Sarkozy ao Brasil, o governo federal planeja assinar com a França acordos “estratégicos” de compra de equipamentos e tecnologia militar que vão desde helicópteros e aviões caça até um submarino nuclear, totalizando o assombroso valor de mais de R$ 22 bilhões, soma equivalente ao que será investido no PAC ao longo do ano inteiro, e bem superior às compras de armamentos da Venezuela – que embora possua uma força militar bem inferior à brasileira, tem sido acusada pelos jornalões de ser “perigosa” e de estar fazendo uma “corrida armamentista” no continente. O que não se diz porém é que, embora haja certamente entre os generais brasileiros aqueles ansiosos por esmagar à força o incômodo exemplo da crescente mobilização popular na Venezuela Bolivariana, o autêntico inimigo em potencial fica um pouco mais a oeste. A Colômbia, que já possui um exército maior e mais bem equipado que o brasileiro, que é governada por um regime autoritário, militarista e com fortes pretensões ditatoriais e que ainda por cima pretende instalar sete bases militares do EUA em seu território – convertendo-a na ponta de lança gringa ideal para se mirar as riquezas da Amazônia – é que é o verdadeiro perigo. Ao longo dos séculos o capitalismo sempre buscou superar as suas crises produzindo guerras, de preferência longe de seu quintal, pra lucrar primeiro com bombas e depois com a reconstrução. E os EUA – centro do capitalismo mundial – ainda estão longe de se recuperar da última dessas crises, que por sinal eles mesmos criaram. Haverá um cheiro de guerra no ar?