sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Raul Castro e os "direitos humanos" dos capitalistas*

"Houve tortura na Ilha de Cuba, sim senhor, mas na base de Guantánamo, que não é nosso território. Fale para eles [EUA e/ou entidades de 'direitos humanos'] que discutam conosco direitos em igualdades de condições e vamos ver o que sai. Quem controla a imprensa? Vocês são jornalistas e sabem disso. Quando escrevem algo que não convém ao dono o que acontece? Desde que um tal de Gutemberg inventou a imprensa, só se publica o que quer o dono da empresa."

(Raul Castro, presidente de Cuba, ao ser questionado sobre o desrespeito aos direitos humanos em Cuba e após lamentar a morte de preso em greve de fome).

*texto extraído de prestesaressurgir.blogspot.com/

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um exemplo que vem da... Coréia do Norte!

A Coréia do Norte é, para todos os efeitos, um regime totalitário da pior espécie. Uma caricatura grotesca do comunismo que foi capaz de abolir o marxismo-leninismo em favor de uma filosofia de Estado própria, a chamada Doutrina Juche – um conjunto de dogmas criados pelo fundador do país, o autocrata Kim Il-sung, que entre outras coisas prega o completo isolamento e a busca pela auto-suficiência do pequeno país asiático e estabelece um calendário “alternativo” cujo ano um inicia justamente na data de nascimento do “grande líder”... Atualmente, a Coréia do Norte é uma nação extremamente pobre e atrasada, com uma economia em frangalhos por conta do inflexível e absoluto controle estatal. Trata-se de um país que depende largamente de ajuda humanitária para impedir que seu povo morra de fome, uma “monarquia vermelha” governada atualmente pelo filho do “grande líder”, o excêntrico autocrata Kim Jong-il, que a exemplo do seu pai, manteve o país sob estrito controle de um Estado stalinista com uma compulsão paranóica por controlar cada aspecto da vida de seus cidadãos.

Porém, por incrível que pareça, mesmo um regime como o norte-coreano é capaz de proporcionar exemplos democráticos que não se vêem em quaisquer das ditas “democracias” ocidentais...

Tudo começou quando o governo norte-coreano decidiu realizar reformas no seu sistema monetário, visando “abolir” as relações de mercado e ceifar pequenas fortunas particulares obtidas com o comércio. O pacote econômico se revelou um desastre, agravando a crise do abastecimento e provocando enorme descontentamento popular. Como resultado, o primeiro-ministro do país convocou, semana passada, uma reunião com milhares de representantes dos inminban (ou “brigadas populares”). Cada inminban serve como uma espécie de conselho de base local, composto basicamente por 20 a 40 famílias, servindo em geral como mecanismo de fiscalização do povo e correia transmissora dos desejos do regime. Porém, dessa vez algo de diferente se viu. Surpreendentemente, o primeiro-ministro anunciou o abandono do pacote econômico e pediu desculpas pelos seus resultados desastrosos: “Eu ofereço minhas sinceras desculpas pela reforma cambial (...) Nós faremos o nosso melhor para estabilizar a vida do povo”, disse ele na reunião, conforme divulgou-se na imprensa sul-coreana.

Depois dessa, fica a pergunta: onde que já se viu em alguma “democracia” ocidental qualquer governante pedindo desculpas ao seu povo por seus atos desastrosos? Existe por acaso alguma “democracia” onde tais desculpas sejam transmitidas não por jornais ou televisão, mas sim diretamente ao próprio povo, através dos inminban? E qual das pretensas “democracias” do mundo capitalista possui qualquer coisa que se assemelhe minimamente a essas “brigadas populares”, onde bem ou mal o povo ao menos se vê em contato direto com seus líderes?

Fatos como esse põem em xeque as noções “senso comum” existentes sobre “ditadura” e “democracia”, e servem de alento a todos aquele acreditam que uma alternativa ao capitalismo e sua corrupta “democracia representativa” não só é necessário como possível. Se até mesmo o pior dos socialismos é capaz de dar lições de democracia ao auto-intitulado “mundo livre”, o que mais pode ser considerado impossível?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

20 anos do fim do apartheid: a História de uma cumplicidade criminosa.

Há exatos vinte anos, em uma data histórica para a Humanidade, o líder negro Nelson Mandela era libertado da prisão, marcando o começo do fim do apartheid, o odioso regime de segregação racial que submeteu o povo negro da África do Sul, dentro de sua própria terra-mãe, à opressão da minoria branca de origem européia. Hoje, não há no mundo quem não tenha admiração por Mandela e pela justeza da sua luta, e tampouco há quem não sinta repulsa pelo falecido apartheid. Mas nem sempre foi assim.

Poucos lembram hoje em dia que, há vinte anos atrás, governos e elites dos EUA e do chamado “ocidente” apoiavam o regime do apartheid de forma ora velada, ora escancarada, tratando-o como um importante aliado “na defesa da liberdade e da democracia” na África; poucos lembram também que o regime norte-americano, que hoje rende louvores a Mandela, o tachava naqueles tempos de “perigoso terrorista”. E menos pessoas ainda lembram que, naqueles tempos, os mais firmes aliados na luta do povo sul-africano contra o regime de segregação racial foram justamente as “terríveis ditaduras” do mundo socialista, em especial Cuba, União Soviética, Angola e Moçambique, que na contramão do chamado “mundo livre”, lutaram de forma implacável para isolar o regime sul-africano perante a comunidade internacional, inclusive pagando com o sangue de seus povos para conter o expansionismo militar do apartheid na África meridional. Mandela jamais deixou de agradecer aos “terríveis comunistas” pelo inestimável apoio destes à liberdade de seu povo, inclusive chamando Fidel Castro de “irmão”.

Nada disso surpreende. A história do apartheid foi a mesma da Guerra Fria, ou seja, foi a história da resistência heróica de povos inteiros contra o poder inescrupuloso do capital transnacional. De início uma luta de classes localizada dos negros pobres da África do Sul contra a opressão de uma elite branca genuinamente fascista, o conflito se proliferou pelo resto da região quando os EUA viram na elite afrikaaner o aliado ideal para apoiar a expansão de suas transnacionais e combater o “perigo vermelho” na África subsaariana – principalmente após a descolonização da antiga África portuguesa e a posterior guinada de Angola e Moçambique para o campo socialista. Assim, o apoio da auto-intitulada “maior democracia do mundo” foi importante não somente para a sobrevivência do apartheid como também estimulou o expansionismo imperialista do regime fascista sul-africano na região. Por todo o século XX, países como Angola, Botsuana, Zimbábue e Namíbia sofreram invasões, agressões e ataques terroristas promovidos pela elite branca capitalista sul-africana, que a exemplo da norte-americana, ambicionava roubar para si o petróleo, o ouro e o diamante de outros povos e submetê-los à completa exploração, tal como já faziam com o próprio povo sul-africano. Porém, tudo mudou com o fim da Guerra Fria e do “perigo vermelho”, tornando o apoio ao apartheid pelos governos do ocidente não somente insustentável como também desnecessário. Completamente isolada, a racista elite branca afrikaaner se viu obrigada a capitular, e o resto da história já se conhece.

Estes são os fatos da cumplicidade do capitalismo com os crimes do apartheid, que passados vinte anos, os donos do capital ainda tentam em vão apagar. Resta saber quando o ocidente “livre e democrático” e seu capitalismo irão pagar sua dívida para com os povos da África subsaariana, ou ao menos prestar contas de seu legado racista e opressor perante a História.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Indagações sobre a “comunidade internacional” e a “ameaça” do Irã.

Na grande mídia, noticiam-se constantemente as “preocupações” da “comunidade internacional” com respeito ao programa nuclear do Irã, que agora cometeu o “terrível crime” de dar um novo salto em sua capacidade de enriquecimento de urânio. A dita “comunidade internacional” (leia-se EUA e seus cupinchas) diz temer que o Irã esteja “próximo” de fabricar bombas atômicas. Cinismo sobre cinismo. A nova usina de enriquecimento do Irã tem capacidade de enriquecer o urânio em 20%, enquanto para produzir uma bomba atômica, é preciso de um enriquecimento de mais de 95%. Trata-se de um salto tecnológico de tal envergadura que necessita muito mais do que apenas vontade de se alcançá-lo, se é que tal vontade existe.

Por que a grande mídia se esquece de mencionar que o governo de Israel, grande inimigo do Irã, já tem há muito a bomba atômica? O desprezo israelense pela vida do “inimigo” – fartamente demonstrado pelos massacres na Faixa de Gaza e pelas décadas de opressão ao povo palestino – faz do agressivo Estado sionista um perigo muito maior para a paz mundial do que o Irã. Por que essa “comunidade internacional” de um só país não demonstra essa mesma “preocupação” para com o programa nuclear israelense? Que moral os EUA, único país da História que foi covarde e monstruoso a ponto de usar a bomba atômica de verdade (exterminando as populações civis de Hiroshima e Nagasaki), tem para falar do “perigo” da “proliferação nuclear”? Seria o medo paranóico do Império de provar um dia do seu próprio veneno? Ou seria parte da obsessão também paranóica das elites do Império em viver procurando "inimigos do país", para que seu povo não perceba que “os inimigos” sempre foram na verdade seus próprios líderes? E qual o interesse da grande mídia nacional em ficar sempre a favor do Império nas disputas deste com seus inimigos? Nossas elites não conseguem mesmo deixar de lado seus velhos hábitos de servilismo ao “amigo do norte”... Isso ajuda a fornecer uma definição mais precisa do conceito de “ocidente” ou “comunidade internacional”: são as elites desses países, ligadas econômica e ideologicamente ao Império, e nunca seus povos, a tal “comunidade internacional” dos jornalões e das agências de notícias-enlatadas.

Comparando os governos de FHC e Lula.

O desafio foi lançado pelo ex-presidente tucano, que encheu o peito para atacar a candidata governista Dilma Rousseff, dizendo a seguir “não temer” uma comparação entre seu governo e o de Lula. A preferida de Lula, por sua vez, disse em um de seus comícios que “aceita o desafio”. Porém, nem FHC nem Dilma ou Lula foram às “vias de fato” de comparar seus governos. Descubramos por que analisando as linhas gerais do cada um deles fez com seus oito anos de governo.

FHC privatizou praticamente tudo que estava nas mãos do Estado, sob controle social, entregando a troco de nada nossas riquezas e nossa capacidade de governar a nós mesmos a tubarões privados corruptos e gananciosos. Lula fez o mesmo, privatizando rodovias e poços de petróleo, e agora trabalha duro para privatizar também o pré-sal. FHC seguiu com esmero a chamada “cartilha neoliberal”, submetendo o Estado aos desmandos do mercado através da “autonomia” do Banco Central e das “agências reguladoras”, entregando bilhões de reais aos banqueiros e deixando migalhas pra saúde e pra educação. Lula seguiu exatamente a mesma cartilha, inclusive dando ainda mais dinheiro aos agiotas do mercado financeiro – tudo isso sem “quitar a dívida externa” que nem se mente por aí. FHC era inimigo dos movimentos sociais do campo e da cidade, e não fez a reforma agrária. Lula posa de “amigo” do MST e outros movimentos sociais, mas também não fez a reforma agrária. FHC instituiu o assistencialismo através do Bolsa Família, criticado pesadamente pelo então oposicionista Lula. Quando assumiu, Lula tomou pra si aquilo que antes criticava, aprofundando ainda mais a política tucana de “dar esmola” ao invés de emprego, garantindo assim muitos votos nas áreas mais pobres do Brasil. FHC tentou sem sucesso estender muitas de suas “reformas” neoliberais para campos como educação, saúde e seguridade social. Lula não só nada fez contra toda essa “herança maldita” do desgoverno tucano como conseguiu realizar muitos dos velhos sonhos tucanos, através das “reformas” da previdência e universitária. E quer ir além, com suas “reformas” trabalhista e política, tudo copiado da velha cartilha neoliberal tucana.

Está explicado porque governo e oposição de direita preferem xingar uns aos outros do que fazer comparações tais como cobrou FHC, “sem mentir nem descontextualizar”. Na essência, PT e PSDB/DEMO são exatamente a mesma coisa, só mudando nos detalhes. Ambos servem aos mesmos interesses, nem “do Brasil” nem “dos trabalhadores”, mas sim do grande capital privado nacional e estrangeiro. A disputa acirrada que vemos aqui não é entre diferentes “projetos de nação”, mas sim pelo puro e simples privilégio de se controlar a máquina estatal e ser o “executivo-chefe” a gerir os negócios sujos do capital.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Fórum Social Mundial Porto Alegre 10 anos: um balanço.

Àqueles que lutam mundo afora contra a hegemonia do capital, não há hoje no planeta outro espaço como o Fórum (...) de forma que apontar os problemas deste como razão para se furtar de tal espaço representa uma atitude sectária e pouco construtiva (...) Fica [porém] cada vez mais evidente que o Fórum Social Mundial já cumpriu seu papel histórico (...) Torna-se urgente a necessidade de ser ir além, de se alcançar novos patamares organizacionais para as futuras lutas anti-capitalistas globais, criando-se novos e mais avançados instrumentos de organização a nível mundial.
por Eduardo Grandi (autogoverno@gmail.com)

Em seu décimo ano de existência, o Fórum Social Mundial terá em 2010 inúmeros encontros por todos o planeta, com destaque para os Fóruns da Palestina, do Iraque, de Istambul, de Detroit (EUA), de Belém do Pará e inúmeros outros, todos “abertos” simbolicamente pelo Fórum Social Mundial Grande Porto Alegre – 10 anos, ocorrido de 25 a 29 de janeiro na região metropolitana da capital rio-grandense, berço deste evento que, desde 2001, tem servido de encontro para debates e trocas de experiências entre forças progressistas de todo o planeta, sendo ao longo desses dez anos o grande pólo inspirador e aglutinador de todos aqueles que acreditam em “um outro mundo possível”.

O Fórum de Porto Alegre 2010 teve números expressivos. 35.000 participantes (mais da metade de mulheres) e 15% de estrangeiros vindos de 39 países. Pouco se comparado com os mais de cem mil participantes de Belém em 2009 e Porto Alegre em 2005 (última edição ocorrida na capital gaúcha), mas muito se considerarmos que, em tais edições, o Fórum Social Mundial fora “unificado” em um só evento, e não partilhado mundo afora em diversos fóruns menores que nem agora. Inclusive há de se considerar que, mesmo “regionalizada”, a edição de 2010 foi maior que edições “mundiais” como a de 2001.

Tais números, no entanto, podem camuflar os graves problemas e limitações do Fórum Social Mundial, que nessa edição de Porto Alegre parecem ter alcançado o auge. Além da bagunça generalizada na organização do evento (muito pior que nas edições anteriores), que fez com que praticamente todas as palestras e oficinas sofressem alterações de última hora, seja nos palestrantes, nos horários ou até mesmo nos locais, houve também a disputa pelos ganhos políticos do evento entre o prefeito de Porto Alegre, o direitista José Fogaça (PMDB) e os prefeitos petistas das cidades próximas, o que levou a um espraiamento das atividades do Fórum por toda a região da Grande Porto Alegre. Alocadas em cidades distantes, atividades importantes como as da tradicional “Casa de Cuba” (mandada para a distante cidade de São Leopoldo) caíram no completo ostracismo por conta da distância e do isolamento. Já o tradicional “Acampamento da Juventude”, “desterrado” para Novo Hamburgo, obrigava os poucos lá alojados, por conta de sua distância excessiva, a gastar mais de uma hora de trem e de ônibus para se chegar à Porto Alegre...

Porém, muito pior do que o total descaso de autoridades e comissão organizadora para com a funcionalidade do evento, foi o caráter político deste. Há anos que o Fórum Social Mundial vem se convertendo em um espaço de muito debate e pouca ação, onde sobram ONGs apolíticas (muitas delas ligadas a grandes corporações transnacionais) e faltam certas organizações e partidos mais combativos e de conteúdo político mais maduro. Exceção importante, o MST teve esse ano presença reduzida no evento, dizem as más línguas por conta de um acirramento das disputas político-ideológicas no interior da entidade, sensação reforçada pelas declarações bombásticas do líder do MST, João Pedro Stédile, que afirmou à imprensa bem no meio do evento que ocupar terras “não soma mais aliados e portanto não interessa mais” ao Movimento. Assim, aproveitando esse espaço deixado pelo MST e outros grupos menores, organizações oportunistas nada preocupadas com “outro mundo possível” tomaram de assalto o Fórum de Porto Alegre como nunca. Foi esmagadora a presença de centrais sindicais “pelegas” e/ou governistas como a Força Sindical e a CUT, que usaram o evento para tentar impor de forma escancarada seus próprios projetos políticos, incluindo a promoção da imagem do governo Lula e de sua candidata à Presidência. Também a organização do evento, controlada pela governista CUT, refletiu a triste realidade de um Fórum Social convertido em palanque desavergonhado do lulismo, com o boicote e a marginalização de atividades menores e a super-promoção de atividades “em defesa” do governo do PT, como a dita assembléia dos “Movimentos Sociais” do dia 29, quase uma “festa particular” de entidades governistas e que, a exemplo das demais oficinas dos dias finais do Fórum, foi um fracasso em termos de público. Nem mesmo o próprio Presidente Lula escapou desse desinteresse. Seu comício no dia 26 não foi capaz de lotar o ginásio do Gigantinho, o mesmo que cinco anos antes ficou completamente abarrotado para ver o Presidente venezuelano Hugo Chávez defender pela primeira vez o “socialismo”. Tudo isso demonstra o perigo que o sectarismo do governismo escancarado representa à própria sobrevivência a longo prazo do Fórum Social.

No entanto, mesmo com tantos problemas, tal evento ainda não perdeu a sua extrema importância como espaço único de encontro e intercâmbio entre movimentos, partidos e entidades progressistas de todo o planeta, comprometidas em maior ou menor grau com a superação da ordem global capitalista e em prol de uma nova sociedade mais justa e igualitária, de forma que apontar os problemas do Fórum Social Mundial como razão para se furtar deste espaço representa uma atitude sectária e pouco construtiva.

De fato, àqueles que lutam mundo afora contra a hegemonia do capital, não há hoje no planeta outro espaço como o Fórum, o que não significa porém que este seja o produto acabado e definitivo da luta anti-capitalista global. Em verdade, fica cada vez mais evidente que o Fórum Social Mundial já cumpriu seu papel histórico: pois se este no passado recente serviu valiosamente em favor da recomposição e reorganização das forças progressistas do planeta, que se encontravam em refluxo desde o fim do socialismo no Leste Europeu, hoje porém as condições são outras. Houveram avanços significativos na luta anti-capitalista e derrotas importantes das forças do capital na última década, tornando a estrutura excessivamente descentralizada e meramente debatedora e não-deliberativa do Fórum Social obsoleta perante a necessidade de se lidar com as conquistas já acumuladas e de se enfrentar os novos desafios por vir. Torna-se urgente a necessidade de ser ir além, de se alcançar novos patamares organizacionais para as futuras lutas anti-capitalistas globais, criando-se novos e mais avançados instrumentos de organização a nível mundial (como internacionais de partidos políticos e/ou movimentos sociais genuinamente de luta) capazes de deliberarem posições conjuntas e organizarem, também em conjunto, a tão necessária e ainda ausente ação prática e transformadora em escala global.

Até lá (e talvez mesmo depois), apesar de falhas organizacionais e até mesmo de vergonhosas tentativas de aparelhamentos governistas, o Fórum Social continuará sendo o espaço principal de encontro e organização das forças progressistas e anticapitalistas do mundo, não somente por seu caráter único, mas também (e isso é o que o Fórum tem de mais importante) por sua enorme pluralidade e riqueza de idéias, que mesmo por vezes ilusórias ou até mesmo ingênuas, permitem que nós comunistas, marxistas e socialistas revolucionários, possamos de tempos em tempos (re)pensar algumas de nossas práticas e visões de mundo, proporcionando assim um verdadeiro remédio contra todo e qualquer engessamento conservador, seja ele liberal-direitista ou burocrático-esquerdista.