sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ladrões de palavras

por Eduardo Galeano

De acordo com o dicionário dos nossos tempos, uma boa ação já não é o nobre gesto do coração, e sim a ação bem-cotada na Bolsa, e a Bolsa é o cenário onde acontecem as crises de valores.

O mercado já não é aquele cálido local onde a gente compra frutas e verduras no bairro. Agora se chama Mercado um senhor temível que não tem rosto, que diz ser eterno e nos vigia e nos castiga. Seus intérpretes avisam: O Mercado está nervoso, e avisam: Não se deve irritar o Mercado.

Comunidade internacional é o nome dos grandes banqueiros e dos chefes guerreiros. Seus planos de ajuda vendem salva-vidas de chumbo aos países que eles próprios afogam e seus planos de paz pacificam os mortos.

Nos Estados Unidos, o Ministério de Ataques se chama Secretaria de Defesa, e são chamados de bombardeios humanitários seus dilúvios de mísseis contra o mundo.

Num muro, escrito por alguém, escrito por todos, leio: "Estou com dor até na voz".

domingo, 8 de abril de 2012

O Pico Petrolífero, uma ameaça ignorada

por Jorge Figueiredo*

É um dos paradoxos da nossa época que a questão mais importante do século XXI, aquela que vai marcar a nossa geração e todas as que hão de vir, seja quase totalmente ignorada pela maior parte dos mass media, dos responsáveis políticos, dos economistas e a generalidade da população. Refiro-me ao Pico de Hubbert, ou Pico máximo da produção petrolífera possível no mundo.

Se o petróleo barato e abundante permitiu o desenvolvimento acelerado do mundo no século XX, a situação de penúria no século XXI anuncia um quadro económico totalmente diferente pois não existe qualquer substitutivo para a quantidade de petróleo agora (ainda) consumida pelo mundo (cerca de 85 milhões de barris por dia).