segunda-feira, 31 de março de 2014

A ditadura foi mesmo militar?


Neste dia em que se completam exatos 50 anos do golpe que instaurou a chamada ditadura militar no Brasil, é preciso ser dito que essa ditadura foi muito mais civil do que alguns estão dispostos a admitir. Seguem alguns dos inúmeros exemplos de personalidades envolvidas com a ditadura que deixam claro por que o regime estabelecido pelo golpe de 1964 não foi resultado do aventureirismo de alguns generais ambiciosos, mas sim a expressão dos interesses de toda uma classe social, a classe dos capitalistas, que temia o avanço do socialismo no mundo e viu no golpe a oportunidade de silenciar à força as lutas de então por mais igualdade e justiça social e de ampliar sua dominação sobre o povo trabalhador. Não sem coincidência, além do aumento desenfreado da corrupção e do autoritarismo, o resultado mais óbvio da ditadura foi o aumento da exploração e da miséria da imensa maioria dos brasileiros – e não sem coincidência, o resultado de uma “abertura lenta, gradual e segura” como a que deu fim à ditadura, ao não interferir em nada nas estruturas da propriedade e do poder econômico existentes, só podia mesmo terminar em um regime “democrático” como o atual, de miséria, atraso e desigualdade gritantes, onde a polícia segue matando e torturando o povo nas periferias e onde muitos dos líderes da velha ditadura seguem no poder.


Albert Boilesen: empresário paulista de origem dinamarquesa. Fundou o CIEE (Centro Integrado Empresa-Escola), ocupou a presidência da empresa Ultragás e do Rotary Club de São Paulo. Foi também um dos principais apoiadores das forças de repressão da ditadura, organizava seus colegas capitalistas em prol do financiamento da chamada Operação Bandeirante (OBAN), responsável por perseguir, torturar e matar opositores do regime em São Paulo. Sádico ao extremo, Boilesen participava pessoalmente das sessões de tortura nos porões da ditadura. Encontrou a justiça pelas mãos dos guerrilheiros anti-ditadura, que o executaram em 1971.


José Maria Marin: hoje presidente da CBF, era deputado estadual em São Paulo em 1975, quando em um inflamado discurso afirmou que a emissora pública TV Cultura havia se tornado um “antro de comunistas”. Pouco depois o editor-chefe da emissora, Vladimir Herzog, foi preso e assassinado. A morte do jornalista Herzog se tornaria um dos principais símbolos do fanatismo e da brutalidade desmedida da ditadura.

Octávio Frias (jornal Folha de São Paulo), Júlio Mesquita (jornal Estado de São Paulo), Roberto Civita (Grupo Abril), Roberto Marinho (Globo): não é segredo para ninguém que a grande maioria dos empresários das comunicações apoiaram o golpe – e o mesmo sucedeu com os principais órgãos de imprensa do Brasil atual. Seus meios de imprensa contribuíram decisivamente à campanha de subversão anti-Goulart, e depois prestaram apoio decisivo à consolidação do golpe. Mais do que isso, também ajudaram a organizar política e materialmente o nascimento e a expansão da ditadura. Frias chegou a fornecer ao regime os carros de seu próprio jornal para servirem de camburão dos perseguidos políticos. Mesquita foi um dos principais articuladores da aliança civil-militar que deflagraria o golpe. Já Civita e Marinho encontrariam na ditadura o apoio necessário para tornar suas organizações dois dos principais oligopólios da mídia brasileira na atualidade. Hoje ditos defensores da “democracia” e da “liberdade”, muitos destes órgãos de imprensa sequer dispunham de funcionários da censura em suas redações, tamanha a confiança que a ditadura depositava neles.

Carlos Lacerda: conhecido por seu anticomunismo fanático, era governador do Estado da Guanabara (hoje cidade do Rio de Janeiro) na época do golpe, que ele próprio ajudou a organizar. Esperava com isso ser o novo presidente do Brasil, mas logo percebeu que os militares não pretendiam lhe dar o poder, o que o conduziu à oposição ao regime. Morreu em 1977, possivelmente envenenado pelos mesmos militares que ajudou a empossar.

José de Magalhães Pinto: o então governador de Minas Gerais foi um dos principais articuladores do golpe. Foi de seu Estado que partiram as tropas que iniciariam a derrubada do governo Goulart. Antes mesmo do início da ditadura, Magalhães já se responsabilizara por verdadeiros crimes contra o povo, como o Massacre de Ipatinga (1963), onde dezenas de trabalhadores da Usiminas foram chacinados pela PM. Em homenagem ao líder golpista, até os dias atuais o principal estádio de futebol de Minas Gerais leva o seu nome.

Ademar de Barros: populista e personalista, o ex-interventor da ditadura Vargas em São Paulo e articulador do golpe também acabou se voltando contra os militares. Acabou cassado do governo em 1967 sob alegações de corrupção.